sexta-feira, 1 de agosto de 2008

Rodolfo - Entrevista (Pós-Raimundos)


" ROLOU DE EU ORAR EM LÍNGUAS "

O linguajar é nitidamente misturado. A gíria e o evangeliquês agora são inseparáveis no vocabulário do cantor Rodolfo Abrantes, ex-vocalista da banda Raimundos. Ele não mudou somente a carreira profissional, ao anunciar, em junho do ano passado, sua saída do bem-sucedido grupo brasiliense, seis meses após ter se convertido à fé evangélica. Hoje, a vida do irreverente roqueiro é tão diferente, como são diferentes as letras de seu novo disco, Estreito (Warner Music), com a recém-criada banda RODOX. As músicas recheadas de palavrões deram lugar a mensagens cristãs.

Rodolfo, que se confessa admirador da cantora evangélica Cassiane, garante que sua nova banda não é gospel. O estilo, realmente, nada tem a ver com a música que se canta nos cultos evangélicos. Há punk-rock, ska, hip hop e outros ritmos eletrônicos. A inspiração, agora, não está nas mazelas sociais. Aos 29 anos, Rodolfo conta que foi batizado com o Espírito Santo e recebeu o dom de falar em línguas estranhas.

Quem acompanhou as duas fases de Rodolfo nota a diferença: "Conheci Rodolfo antes de virar crente e prefiro o seu jeito atual", endossa DJ Bob, parceiro do Rodox. Rodolfo recebeu ECLÉSIA para uma conversa exclusiva. Demonstrou estar muito à vontade em falar para uma revista evangélica. "É a primeira entrevista com perguntas diferentes", confidenciou, acrescentando que estava cansado de ver sua fé ser ironizada.


Você já foi discriminado devido à sua aparência ou seu passado?
Não. É uma coisa bem tipo assim, a igreja lá tem a doutrina, não tem nada que escandaliza, tem as irmãs do estreito [grupo de oração], mas o pastor não prega religiosidade. Ele prega comunhão com Deus, então é aquele negócio - se Deus aceitou todos nós, porque o homem não vai aceitar? Ou seja, lá, o pessoal não fica apontando. Não tem essa, se bem
que eu não sou o protótipo do evangélico. Muita gente já tem um estereótipo do evangélico: aquele cara de terno, com a Bíblia na mão, pregando no ônibus. Não assiste

Como foi sua conversão?
Na real, eu me converti em casa. Convidei algumas irmãs do círculo de oração para fazer uma campanha, uma tarde de oração. Foi um círculo de oração. No começo, como eu disse, achei meio maluco, eu não conhecia nada. As irmãs orando em línguas, sendo tomadas pelo Espírito Santo. Aí eu, eita! Nunca tinha visto nada parecido, fiquei assustado, mas deu para perceber que era algo do bem, que estava tudo dentro da Palavra de Deus. Não foi algo que me bloqueou, pelo contrário, senti que aquilo era verdadeiro.

Você, como crente pentecostal, é batizado no Espírito Santo?
já rolou algumas vezes de eu orar línguas. Não acontece toda a vez, é uma coisa bem natural. Choro bastante na presença de Deus.

Rodolfo, você se considera um exemplo de atitude para os evangélicos?
Cara, não sou exemplo não. Seria muita vaidade da minha parte dizer isso. Eu nunca me preocupei em passar uma imagem que não tenho ou tentar parecer algo que não sou. Eu fui natural, realmente eu tenho Deus no coração e acho que isso é natural. Você sendo você mesmo, tendo a consciência limpa sem nada te condenando, não pode ter medo de nada, nem de tomar atitude nenhuma.

Como ficou seu relacionamento com sua família, após a sua conversão?
Melhorou cem por cento. Agora eu consigo olhar nos olhos; antes, eu era muito fechado.

No Raimundos, você cantava contra o sistema. Você pretende fazer isso também no meio evangélico?
Eu fui a várias igrejas e vi várias diferenças. Ninguém me julgou e também não vou ninguém. Acho que se a gente olhar para o homem, a gente vai se decepcionar. Sabe, ninguém é perfeito, se você encontrar algum [perfeito], pode ter certeza que ele é Jesus. Eu nunca fui para a igreja para olhar para o homem, para a religião. Vou para adorar a Deus, para orar e ouvir sua palavra. Sei que Deus opera, então é assim.

O que você gosta de ouvir na música evangélica?
Gosto de ouvir Diante do Trono e Cassiane. São as minhas preferidas. Quando estou em casa, ponho pra tocar, é bom. Quando vou a alguma igreja, tem sempre alguém cantando.

Foi difícil largar as drogas?
Você já ouviu aquela palavra na Bíblia que diz: "Entrega-me teus caminhos e eu endireitarei"? Então, foi só isso que eu fiz. Eu só buscava a Deus e as coisas boas iam acontecendo. No meio de um baseado, uma vez - eu continuava fumando depois de me converter -, acabou a vontade. Falei: "Esse é o último". Não tive problema nenhum. Não tive tentação de voltar, vi que aquilo foi tirado de mim.

Você tem recebido propostas para dar testemunho e cantar em outras igrejas?
De testemunhos tenho recebido várias. Outro dia, falei em Recife, para o grupo Surfistas de Cristo. Fui em muitas igrejas, mas para tocar fica difícil... É só pancadaria, meu som não se classifica como som evangélico, apesar de ser feito por um crente.

Muitas pessoas dizem que artistas convertem para buscas um novo público - no caso, o evangélico. Já disseram isso de você?
iria continuar a fazer o som que eu gosto e mudar um pouco a temática das letras. Quero falar do que eu vivo, e de como minha vida está diferente. Sofri muita perseguição, sim. O mundo é muito louco, aí. Desde que Cristo veio, os cristãos são perseguidos, está na Palavra. A Bíblia diz: "Por causa do meu nome, serão perseguidos." Então, isso acontece mesmo. Todo mundo assiste o filme de Jesus no Natal e se emociona, mas, seguir que é bom, ninguém quer, saqualé? Então é assim. Por mim, isso nem se tornaria público, é algo pessoal meu. Não precisava as pessoas fazerem tanto barulho, mas fizeram, não é.


Fonte: Revista eclésia (A Revista Evangélica do Brasil)

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